Os barranqueiros do rio São Francisco têm voz altiva e têm esse espaço para expressar seus sentimentos, lamentos, projetos e reivindicações. Aqui aceita-se notícias, fotos, críticas, poesias, músicas, vídeos e tudo mais que possa fazer a voz do beiradeiro ecoar pelos rincões do planeta.
segunda-feira, 6 de agosto de 2012
ARTIGO - UM INIMIGO ENTRE NÓS
A ocupação da Ilha do Fogo pelo o Exército Brasileiro o faz andar na contramão dos projetos e dos interesses da população do Vale do São Francisco. Como se não bastasse estar empenhado até a alma nas obras de transposição das águas do Velho Chico, o Exército está também destruindo o único estaleiro no trecho navegável do Rio São Francisco. O estaleiro instalado na Ilha do Fogo a cada dia tem perdido as suas características, foram-se os trilhos das rampas e as instalações internas também têm sofrido alterações por parte do Exército, que ocupou parte da ilha no ano de 2008, através do ato administrativo da Secretaria de Patrimônio da União que concedeu a posse da ilha em toda a sua extensão, cerca de cinco hectares.
Quando da dissolução da Franave, no ano de 2007, o Exército solicitou a Secretaria de Patrimônio da União a posse da ilha, para isso usou meios no mínimo antipatrióticos, muito contrários a filosofia propagada pela instituição, de estar sempre em defesa da sociedade e dos interesses do povo brasileiro. Para ter a posse da ilha, entre tantas coisas, argumentou o número de ocorrências policiais envolvendo o uso e o tráfico de drogas. Em ofício enviando ao comandante do 72 BI, em Petrolina, a delegacia de polícia informa que no período de cinco meses, foram registrados cinco ocorrências policiais envolvendo o uso e o tráfico de drogas, sendo na sua maioria usuários de maconha. Nesse período, ou melhor, no período de cerca de dez anos, nenhum homicídio foi registrado. O que torna uma mentira o argumento propagando e incrustado no imaginário da população ribeirinha, em especial de Juazeiro e Petrolina, de que a ilha do fogo é perigosa para se frequentar. Se levarmos em consideração, claro respeitando a proporcionalidade, a orla de Juazeiro e alguns espaços em Petrolina, são muito mais perigosos para se frequentar, pelo grande número de ocorrências policiais envolvendo o uso, o tráfico e a violência contra a vida.
Um outro fator que torna a ocupação da ilha do fogo pelo Exército um grande paradoxo, é o contrato do governo brasileiro através do Ministério da Integração Nacional e da Codevasf, com o Corpo de Engenharia do Exército dos Estados Unidos (Usace) para estudar alternativas que tornem navegável o Rio São Francisco, um dos mais importantes cursos d´água do país e da América Latina. O contrato inicial é de R$ 7,8 milhões (US$ 3,84 milhões), assinado em dezembro do ano passado e, em março deste ano, os primeiros engenheiros do Exército norte-americano chegaram ao Brasil com a missão de desenvolver projetos que contenham a erosão nas margens e facilitem a construção de uma hidrovia no São Francisco.
O contrato tem o prazo de três anos, quando o Exército Americano deve apresentar 12 projetos de assessoria técnica para a navegação do rio. São estudos sobre dragagem, controle de erosão e estabilização das margens, geotecnia, dentre outros. Só para cumprir a meta de tornar os primeiros 657 km do Velho Chico navegáveis, servindo de via de escoamento da produção, o governo brasileiro vai investir até o final de 2012 mais de R$ 73 milhões.
A principal rota da navegabilidade do rio São Francisco está justamente entre a cidade de Pirapora (MG) e Juazeiro/Petrolina, e o estaleiro da ilha do fogo é o único ao longo do curso navegável do rio. Como pode investir na navegabilidade do rio se irão destruir o seu único estaleiro?
Além dos rios e oceanos de dinheiro público que estão indo pelo ralo na malfadada transposição das águas do velho Chico, Exército Brasileiro também está empenhado numa só tacada em destruir a história e o futuro da navegação do rio São Francisco.
Enio Silva
Educador
03/08/2012
FONTE: http://www.geraldojose.com.br
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